26 setembro 2007

Desabafo de uma mulher moderna

Quem escreveu isto devia ganhar o prémio Nobel da Literatura.
São 5.30H da manhã, o despertador não pára de tocar e não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou acabada. Não quero ir trabalhar hoje. Quero ficar em casa, a cozinhar, a ouvir música, a cantar, etc. Se tivesse um cão levava-o a passear nos arredores. Tudo menos sair da cama, meter a primeira e ter de pôr o cérebro a funcionar. Gostava de saber quem foi a besta da bruxa imbecil, a matriz das feministas que teve a ideia de reivindicar os direitos da mulher e porque o fez connosco, que nascemos depois dela? Estava tudo tão bem no tempo das nossas avós, elas passavam o dia todo a bordar, a trocar receitas com as suas amigas, ensinando-se mutuamente segredos de condimentos, truques, remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos seus maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, recolhendo legumes das hortas e educando os filhos. A vida era um grande curso de artesãos, medicinas alternativas e de cozinha. Depois ainda ficou melhor, tivemos os serviços, chegou o telefone, as telenovelas, a pílula, o centro comercial, o cartão de crédito, a Internet! Que maravilha que seria ter a vidinha das nossas avós com a tecnologia de hoje. Quantas horas de paz a sós e de realização pessoal nos trouxe a tecnologia! Até que veio uma tipa, que pelos vistos não gostava do corpinho que tinha, para contaminar as outras rebeldes inconsequentes com ideias raras sobre "vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço?! Que caraças! Se já tínhamos a casa inteira, o bairro era nosso, o mundo a nossos pés!!! Tínhamos o domínio completo dos nossos homens, eles dependiam de nós, para comer, vestirem-se e para parecerem bem à frente dos amigos e agora? Onde é que eles estão??? Nosso espaço???!!! Agora eles estão confundidos, não sabem que papel desempenham na sociedade, fogem de nós como o diabo da cruz. Essa piada..., acabou por encher-nos de deveres. E o pior de tudo é que acabou lançando-nos no calabouço da solteirice crónica aguda!!!! Antigamente os casamentos eram para sempre. Porquê? Digam-me porque é que um sexo que tinha tudo do melhor, que só necessitava de ser frágil e deixar-se guiar pela vida começou a competir com os machos? Para eles agora, uma relação são 15 minutos de sexo rápido e depois desaparecem durante duas semanas para verem futebol, beber cerveja e...trabalhar apenas para si. A quem ocorreu tal ideia? Vejam o tamanhão dos bíceps deles e vejam o tamanho dos nossos! Estava muito claro que isso não ia terminar bem. Não aguento mais ser obrigada ao ritual diário de ser magra como uma escova, mas com as mamas e o rabo rijos, para o qual tenho que me matar no ginásio, ou de juntar dinheiro para fazer uma mamoplastia, uma lipo, ou implantes nas nádegas... Além de morrer de fome, pôr hidratantes, anti-rugas, padecer do complexo do radiador velho e beber água a toda a hora e, acima de tudo, ter armas para não cair vencida pela velhice, maquilhar-me impecavelmente cada manhã desde a cara ao decote, ter o cabelo impecável e não me atrasar com as madeixas, que os cabelos brancos são pior que a lepra, escolher bem a roupa, os sapatos e os acessórios, não vá não estar apresentável para a reunião do trabalho. E não só, mas também, ter que decidir que perfume combina com o meu humor, ter de sair a correr para ficar engarrafada no trânsito e ter que resolver metade das coisas pelo telemóvel, correr o risco de ser assaltada ou de morrer numa investida de um autocarro ou de uma mota, instalar-me todo o dia em frente ao PC, trabalhar como uma escrava, moderna, claro está, com um telefone ao ouvido a resolver problemas uns atrás dos outros, que ainda por cima não são os meus problemas!!! Tudo para sair com os olhos vermelhos - pelo monitor, porque para chorar de amor não há tempo! ... e ainda ficamos agradecidas quando nos entram em nossa casa, sentam-se no sofá, vêm as notícias, contam-nos coisas sobre os seus amigos, comem o nosso jantar, arrotam e vão embora. A maior preocupação passaram a ser essas piranhinhas de 18~20 anos que não querem saber de emancipação, e que querem mesmo é um homem de 40 anos sossegado em casa que lhes dá tudo aquilo que nós rejeitamos. Somos mesmo estúpidas! E olhem que tínhamos tudo resolvido! Estamos a pagar o preço por estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, perfumadas, unhas perfeitas, operadas, sem falar do currículo impecável, cheio de diplomas, de doutoramentos e especialidades. Tornámo-nos super-mulheres, mas continuamos a ganhar menos que eles e, de todos os modos, são eles que nos dão ordens!!!! Que desastre! Não seria muito melhor continuar a coser numa cadeira?? Basta!!! Quero alguém que me abra a porta para que possa passar, que me puxe a cadeira quando me vou sentar, que mande flores, cartinhas com poesias, que me faça serenatas à janela! Se nós já sabíamos que tínhamos um cérebro e que o podíamos utilizar para quê ter que demonstrá-lo a eles?? Ai meu Deus, são 6.10H, e tenho que levantar-me da cama...Que fria está esta solitária e enorme cama! Ahhhh... Quero um maridinho que chegue do trabalho, que se sente ao sofá e me diga: Meu amor não me trazes um whisky por favor? ou: O que há para jantar? Porque descobri que é muito melhor servir-lhe um jantar caseiro do que atragantar-me com uma sanduíche e uma Coca-Cola light enquanto termino o trabalho que trouxe para casa. Pensam que estou a ironizar ou a exagerar? Não minhas queridas amigas, colegas inteligentes, realizadas liberais....e idiotas! Estou a falar muito seriamente: "Abdico do meu posto de mulher moderna." Nós é que liberamos os homens das suas obrigações. E digo mais: A maior prova da superioridade feminina era o facto de os homens se esfalfarem a trabalhar para sustentar a nossa vida boa! Agora somos iguais a eles! Que merda...Ai ai!!!

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