04 novembro 2005

Trocadalhos do carilho!

Isto de a língua portuguesa ser muito traiçoeira é mais do que uma coisa que se diz. Senão, reparem no que me aconteceu há uns anos. Sim, a mim mesma! Ninguém me contou isto. Infelizmente, eu estava lá, vi e fui a actriz principal.

Eram cerca de 7:45 da manhã e eu tinha acabado de chegar ao café onde tomava sempre o pequeno-almoço antes de ir para o liceu (isto foi mesmo há muitos anos!). Torna-se necessário descrever, para que a cena seja interpretada condignamente, o aspecto do referido estabelecimento comercial: tratava-se de uma tasca, na verdadeira acepção da palavra. Daquelas onde todos os dias, sem excepção, se encontravam logo de manhãzinha ilustres trabalhadores da construção civil, pedindo "sandes" de pastel de bacalhau e copos de três, gritando injúrias contra o desgraçado que esteve ontem a favor do árbitro, dizendo-lhe que seria melhor "ir para casa introduzir uma das extremidades da mão no próprio ânus" - estou, obviamente, a ser muito politicamente correcta!...

Tendo em conta o ambiente desta tasca, imaginem uma rapariga sózinha, ensonada e talvez ainda remelenta, entrar, dirigir-se ao balcão e iniciar o bonito diálogo que de seguida apresento:

- Bom dia. Quero um BICO e uma QUECA.
- Desculpe?!! - diz o empregado com o maior dos espantos.
- Ai desculpe! - neste momento apercebi-me do que tinha dito e apressei-me a emendar: - Uma QUECA e um BICO (sim, porque nestas coisas, a ordem é muito importante!).

Nesta altura, o empregado sorriu, tocou-me no ombro e disse-me amigavelmente:
- Menina, pode-se sentar que eu já lhe levo o café...

Nunca mais pedi bicas em lado nenhum. Ao menos aprendi a lição...Mas seria muito mais simples se na nossa língua não houvessem trocadalhos... Perdão! Trocadilhos.

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