15 dezembro 2005

Orgulho e preconceito

No passado fim-de-semana tive a minha primeira experiência como manequim. O objectivo era fazer uma sessão fotográfica com algumas actrizes da telenovela Morangos com Açúcar e também umas fotos para promoção de agência, que seriam publicadas em algumas revistas da nossa praça. Assim, no sábado, lá fui eu a correr de Azeitão para Lisboa depois de ter recebido um telefonema à última da hora. Claro está que não estava minimamente preparada para o que me ia acontecer, tal é a minha experiência no mundo da moda. Mas como a vida é para ser vivida, lá fui eu, carregada de nervos...fiquem sabendo que quando alguma coisa nos mete medo, o melhor que temos a fazer é enfrentá-la olhos nos olhos. É preciso coragem, é verdade, mas pelo menos nunca nos havemos de perguntar se devíamos ter ido em frente ou não.
Sem pensar muito bem no que estava a fazer, meti-me dentro de uma carrinha com mais 8 pessoas que nunca tinha visto na vida e lá fui eu pela A1 e depois pela A23, a velocidades nunca antes vistas, com techno aos altos gritos no rádio e latas de cerveja a circular pelos presentes.
Os presentes eram o dono da agência, homossexual assumidíssimo (gosto à primeira vista de pessoas corajosas e nada hipócritas), a directora da filial de Lisboa (que tratou de mim do início ao fim), duas manequins (uma russa linda, mas cujo nome nunca consegui perceber, e uma brasileira não tão linda, mas com 300 ml de silicone em cada peito que lhe valeram o estatuto de "manequim"), uma das actrizes dos Morangos (com um sentido de humor apuradíssimo e que me fez rir com vontade em várias ocasiões), um cantor (é uma daquelas caras que conhecemos da televião e das revistas, mas que nunca conseguimos associar a um nome), um outro gajo, cuja função nunca consegui perceber, mas que lá ia connosco todo divertido, e o fotógrafo (um ser muito estranho, com alguma propensão para a depressão e para a taradice e uma enorme necessidade de falar com alguém). Posso dizer com sinceridade que a única pessoa com quem não me senti à vontade foi com o fotógrafo, coisa que não podia ser pior, uma vez que seria para ele que teria que fazer poses mais ou menos sensuais!
Chegados à Covilhã, fomos ver a discoteca onde iria acontecer o "espectáculo", jantámos e fomos para a residencial Mikotânia (mais tarde referida como MICOSE). Foi no quarto da residencial que nos preparámos para a sessão, lindas, produzidas, umas verdadeiras top models. Admito que me senti completamente deslocada, mas mesmo assim bebi todos os momentos, afinal era uma experiência e um ambiente completamente estranhos para mim.
Quando chegámos à discoteca, pediram-me para tirar algumas fotos para ver como me saía. Escusado será dizer que o pânico estava estampado na minha cara e que eu poderia ser tudo menos manequim. Mas, tal como tudo na vida, é uma questão de hábito.
A discoteca às tantas estava cheia e devo dizer que foi muito engraçado ver as reacções das pessoas quando nós passávamos: os rapazes estavam extasiados, até parecia que estavam ao lado da Naomi ou da Claudia!!! As raparigas olhavam-nos com desdém, com a sobrancelha erguida, dizendo até que "não são nada de especial". Eu sou rapariga e sei como elas pensam, e acreditem, soube muito bem estar do outro lado da inveja!
A sessão começou e aos poucos lá me fui "soltando", como eles dizem. Depois do vestido, veio a "piece de resistance", que é como quem diz, o bikini! É que parecendo que não, não é fácil estar em frente a dezenas e dezenas de pessoas, que sabemos à partida que vão estar de olhos postos em nós, em trajes menores! Trajes menores complementados com acessórios que, numa situação normal não estariam presentes, como por exemplo, uns sapatos com 12 cm de salto, um colar de duas voltas e uma camisa transparente! Para meu grande espanto, não me custou nada fazê-lo. Não sei se foi devido ao champanhe e aos Bacardis (provavelmente sim!), mas o facto é que entrei no palco, não olhei sequer para o público, posei muito descontraída, tirei a camisa, pus-me em frente à ventoinha, enfim...tudo! Foi até muito librtador, para grande espanto meu!
Porque será que na nossa vida normal o nosso corpo é motivo de orgulho e em outras situações provoca tanto preconceito e vergonha? Na praia ando de bikini em frente a muito mais pessoas e não me sinto mal quando olham para mim. No palco também não senti, mas foi apenas porque me abstraí do que se passava à minha volta. Porque será que quem nos conhece e nos ama tem orgulho em sermos bonitas, mas de repente passam a temer os comentários que poderão surgir devido a essa mesma beleza? Será que há situações em que devemos ser alvo de atenção e outras em que devemos passar despercebidas? E se sim, quem determina que situações são essas? Nós ou os outros?
Da minha parte, enquanto deitar a cabeça na almofada e adormecer sem problemas, só tenho motivos para ter orgulho em mim. Deixo os preconceitos para quem se preocupa com eles.

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